Crítica: Entre “Piratas do Caribe” e o descobrimento do Brasil “Novo Mundo” encanta pela qualidade, mas peca no sotaque

Por Jean Pierry Oliveira

Anna Millman (Isabelle Drummond) e Joaquim (Chay Suede): casal com química
Foto: TV Globo

Estreia da última quarta feira (22/03/2017), “Novo Mundo” é a aposta dos também estreantes Alessandro Marson e Thereza Falcão para as 18hrs. Após a ensolarada “Sol Nascente”, é chegado o momento de contar a história luso-brasileira que começa em 1817 com a vinda da princesa austríaca Leopoldina (Letícia Colin – em ótima interpretação) para o Brasil, encontrar o seu prometido amor  - por procuração – Dom Pedro I (Caio Castro).

Mas foi o casal protagonista Anna Millman (Isabelle Drummond) e Joaquim (Chay Suede) que monopolizou a primeira semana. Apostando no carisma de seus intérpretes – que também foram Helô e Pedro na primeira fase de “A Lei do Amor” -  ficou bem clara a intenção dos autores de cativar o público logo de cara com um romance sem novidades, porém com o charme da juventude e das diferenças sociais e históricas que competem a cada um no enredo. Bem verdade que tanto Isabelle quando Chay seguraram bem seus papéis e conferiram a propriedade necessária para fazer sucesso, especialmente em época de redes sociais e seus fandoms (torcidas que surgem em torno de algum casal ou personagem, com junções de nomes e diversas hashtags). Também vale ressaltar o “apátrida” e misterioso Piatã (Rodrigo Simas) que adotado por um homem branco, inglês, vê-se perdido em si quando não consegue adaptar-se a vida na Europa, ao mesmo passo que não sente-se pertencente as raízes indígenas e brasileiras onde nasceu. Talvez essa seja a parte mais “contemporânea” de “Novo Mundo” linkando a situação, indiretamente, com a questão dos refugiados que os noticiários não nos deixam esquecer. Um outro capítulo à parte é o investimento em figurinos e construções cenográficas da Rede Globo no folhetim. Algo nem sempre tão investido no horário, mas que reluz com impressionantes elementos como a nau que traz a comitiva da princesa ao Brasil, o vestuário de todo o elenco, a maquiagem reproduzindo certa falta de higiene da época e a bela fotografia (apesar de escurecida, muita das vezes).

Caio Castro (Dom Pedro I) e Letícia Colin (Leopoldina) em "Novo Mundo"
Foto: Reprodução

Como já ressaltada lá no começo do texto, vale destacar o trabalho de Letícia Colin com sua Leopoldina, mostrando talento num papel difícil, que poderia cair no caricato – especialmente pelo sotaque. Sotaque esse que, aliás, deixa o telespectador confuso. Afinal, entre austríaca, portugueses, ingleses e brasileiros é um festival de prosódia onde não há uma unidade (ou conformidade) entre diversos atores do elenco. Vide a construção oral de Elvira (Ingrid Guimarães), Dom Pedro I (Caio Castro), Dom João VI (Léo Jaime), o inglês  que aprendeu a falar “brasileiro” Thomas (Gabriel Braga Nunes), isso sem falar da escandalosa e espanhola Carlota Joaquina (Débora Olivieri).

Ainda é cedo para fazer qualquer prognóstico sobre o sucesso de “Novo Mundo”, mas seus números de audiência ficaram em 22.7 pontos no dia da estreia e caiu para 18.3 pontos, no segundo capítulo. Mas, acredito, que a tendência – e com os ajustes desses pontos desfavoráveis acima citados – seja consolidar um público fiel e deslanchar. Qualidade tem, atores bons também. Falta agora tempo para saber se a história será tão generosa como prometia.

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