Crítica: Novelas da Globo são protagonizadas por mulheres empoderadas e ares feministas

Por Jean Pierry Oliveira

Jeiza (Paolla Oliveira): policial, lutadora de MMA e com postura feminista
Foto: Divulgação/ TV Globo

Coincidência ou não, desde que explodiram casos de machismo e violência de gênero com artistas da Rede Globo ou em programas da emissora, especialmente nos casos envolvendo o ator José Mayer, o cantor e ex-jurado do The Voice Kids Victor Chaves e o participante Marcos Harter, do BBB 17, que as atuais novelas do canal dos Marinhos são protagonizados por mulheres empoderadas ou ainda de fortes personalidades.

Com ares feministas ou seguras de si, não importa o horário em que você sintonizar: elas estarão lá, capítulo por capítulo. Em “Novo Mundo”, Anna Millman (Isabelle Drummond) é a mocinha que desafia as normas amorosas e sociais da época imperial do Brasil, com seu amor pelo simples Joaquim (Chay Suede) e opiniões progressistas. Estudiosa, mesmo casada, não se curva aos mandos e desmandos dos personagens masculinos sejam eles seu marido Thomas (Gabriel Braga Nunes) ou Dom Pedro I (Caio Castro). Além dela, Leopoldina (Letícia Colin) é muito mais do que uma mera figura decorativa como Imperatriz. A personagem é o verdadeiro apoio de seu instável marido, ombro amigo de Anna e pulso firme em suas decisões que ajudarão na restauração da ordem diante da crise no Brasil.

Ana (Isabelle Drummond) e Leopoldina (Letícia Colin) são decisivas
em "Novo Mundo"
Foto: TV Globo

 Já às 19h30, em “Rock Story”, é Diana (Alinne Moraes) quem movimenta a trama. Tudo bem, a moça pode não ser um exemplo de bons costumes, mas é inegável que tem personalidade e é competente em suas tomadas profissionais. Apesar de emocionalmente desequilibrada por ver Gui (Vladmir Brichta) com Júlia (Nathália Dill), não consta em seu perfil abaixar a cabeça para homem nenhum. Nem para o vilão Lázaro (João Vicente de Castro). Manu (Antônia Moraes) também tem muita personalidade, estilo próprio, é dona de si e ciente de que seu jeito imperativo incomoda, mas também agrada. Léo Régis (Rafael Vitti) que o diga.

Diana (Alinne Moraes) em "Rock Story": determinada e com personalidade forte
Foto: Divulgação/TV Globo

Manu (Antônia Moraes) é a descolada e difícil DJ em "Rock Story"
Foto: Reprodução

 Mas é em “A Força do Querer” que reside os maiores exemplos do “Girl Power”. Com oito protagonistas, são as quatro principais mulheres da história de Glória Perez que sintetizam o enredo do folhetim. Bibi (Juliana Paes) é uma mulher decidida e apaixonada, que em nenhum momento teve receio de trocar a solidez de uma relação com Caio (Rodrigo Lombardi) para ficar com o maître – garçom à época da troca – Rubinho (Emílio Dantas). Bate de frente com qualquer um(a) e correu atrás do tempo perdido para voltar a faculdade de Direito também. Já Ritinha (Ísis Valverde) é a espevitada jovem de Parazinho. Sem medir consequências, fugiu de barco no dia do casamento com Ruy (Fiuk), deixando Zeca (Marcos Pigossi) inconformado, mente sobre a paternidade do(a) filho(a) que espera, não aceita imposições que contrariam seus quereres e mesmo assim, conquista (quase) todos a sua volta.

Ritinha (Ísis Valverde) e Bibi (Juliana Paes): duas fortes mulheres em
"A Força do Querer"
Foto: Divulgação/TV Globo

Jeiza (Paolla Oliveira) é a destemida PM e aspirante de MMA, dona do próprio nariz, que não teme a periculosidade do seu dia a dia e mesmo namorando o chucro e, por vezes, machista Zeca, mostra seu viés feminista deixando claro que homem nenhum tem direito de falar mais alto que ela. Por último, Cibele (Bruna Linzmeyer) é a – aparentemente – mais nova do grupo, mas nem por isso mais frágil. Apesar de abalada pela traição e abandono do ex-noivo Ruy, a filha de Dantas (Edson Celulari) tem atitude suficiente para bater de frente com ele, infernizará a vida do ex e não deixará que tudo fique por isso mesmo, principalmente, ao ter que lidar com os interesses do pai e demais personagens que relativizam sua dor, em prol de interesses próprios, na mais clara demonstração de machismo. Isso sem esquecer que em “Os Dias Eram Assim”, Alice (Sophie Charlotte) e Kátia (Bárbara Reis) são duas representantes de bravura e resistência diante de toda a repressão que sofrem – sociais e familiares. Se pegarmos o “Vale a Pena Ver de Novo”, ainda temos Maria do Carmo (Susana Vieira) e sua força tipicamente nordestina em busca da filha desaparecida.

Cibele (Bruna Linzmeyer) foi traída por Ruy e não aceita que dimunuam sua dor
Foto: Divulgação/ TV Globo

Alice Sampaio (Sophie Charlotte): estudante que resiste a ditadura
em "Os Dias Eram Assim"
Foto: Globo/Maurício Fidalgo

Subversiva, a estudante Kátia(Bárbar Reis) luta pela liberdade
em "Os Dias Eram Assim"
Foto: Globo/Maurício Fidalgo

Não se pode afirmar com todas as letras que essas coincidências – ou não – se dêem pelos personagens masculinos serem “frouxos” ou sem personalidade, pelo aproveitamento da Rede Globo do momento vivido atualmente com a iminente e crescente onda dos debates feministas ou pelos recentes episódios dentro da emissora. Mas o fato é que essa feliz sucessão de personagens femininas fortes contribui e muito para um novo olhar e perspectiva sobre o gênero, que afasta os papéis de situações e contextos rasos e leva ao telespectador boas histórias e representatividade. 

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